Estamos vivendo um momento de euforia nos mercados financeiros do mundo todo e em especial aqui no Brasil. Mesmo em meio a um ambiente político doméstico extremamente conturbado, a bolsa de valores sobe há 9 semanas e sem sinal de correção. Os movimentos recentes da bolsa, tanto o de queda forte causada pela delação da JBS, quanto o de alta sistemática das últimas semanas, corrobora a tese de que o mercado é “pró-Temer”.
Entenda-se o termo “pró-Temer” como um apreço pelas reformas (política e da previdência) em andamento, bem como pelas reformas já aprovadas (trabalhista e PEC do teto). Ficou claro que os agentes econômicos estão fazendo vista grossa para as denúncias de corrupção que giram em torno do governo vigente. Ao mercado só interessa agora a concretização das reformas. Qualquer empecilho à agenda reformista do governo é sentido como negativo e a bolsa desaba (exemplo delação JBS).
Economia e política andam de mãos dadas. Agora um novo item entra na agenda política: o programa de desestatização, e o mercado aplaudiu de pé. Neste artigo iremos fazer uma retrospectiva dos fatos mais recentes e analisar como a política tem influenciado a economia e o mercado de capitais. Iremos também conhecer uma teoria que já tem mais de 100 anos e explica, em partes, o comportamento dos preços e dos índices frente as notícias corporativas e políticas.
Como a Política Influencia o Mercado
Ainda está vivo na memória do investidor o dia do pânico na bolsa brasileira ocorrido em maio último. Muitos ainda não tinham presenciado um circuit breaker na bolsa de valores e puderam sentir na pele a sensação da carteira de investimentos derretendo. Neste dia vi colegas aqui da blogosfera ficando “100 mil reais mais pobre”. No destaque em vermelho da figura a seguir você pode visualizar o tamanho da queda.
Os mais pragmáticos aproveitaram o desespero dos mais aflitos e foram às compras. Os investidores estrangeiros foram os que mais compraram no dia da queda e também nos dias seguintes. Tanto que o índice apresentou uma boa recuperação nos 6 dias que sucederam o pânico.
Entramos então em uma zona turbulenta pontuada por indefinições sobre o futuro político do presidente e das reformas em andamento na agenda política. O índice então começou novo recuo devolvendo toda recuperação que obteve após a grande queda. Este período é mostrado em destaque no retângulo amarelo da figura a seguir.
Como depois da tempestade vem a bonança, uma série de eventos políticos considerados positivos pelo mercado e também alguns fatores externos contribuíram com um rally de alta da bolsa iniciado em 22 de junho e que já dura mais de dois meses. A cereja do bolo veio ontem com a notícia de que a Eletrobras será privatizada, ou desestatizada como o governo está denominando este evento.
No retângulo em azul da figura acima podemos ver a magnitude deste movimento de alta. Com a notícia de desestatização da Eletrobras, o índice Bovespa atingiu o maior nível dos últimos seis anos. Estamos vivendo, sem dúvidas, um movimento de euforia no mercado. A desestatização anunciada foi vista pelo mercado com muito positivismo pois indica um governo menos intervencionista, paternalista, etc. A seguir você poderá relembrar os principais eventos políticos desde a delação da JBS e identificar no gráfico acima o comportamento da bolsa de valores.
#1 – Bomba em Brasília (18/05/2017)
26 ações do Ibovespa desabam entre 10% e 20%; exportadoras se salvam do “sell off” e disparam até 11%:
O mercado brasileiro viveu dia de crise semelhante ao da falência do Lehman Brothers em 2008. O Ibovespa atingiu nos primeiros minutos de pregão queda de 10% e acionou o circuit breaker, assim como os contratos futuros de dólar e juros, que atingiram o limite de alta e tiveram suas negociações congeladas por um breve momento na B3.
O principal índice de ações brasileiro caiu 8,80%, a 61.579 pontos, enquanto o dólar futuro registrava alta de 7,98%, a R$ 3,397. Já o dólar comercial encerrou em valorização de 8,15%, a R$ 3,38 na compra e R$ 3,3890 na venda.
A reação ocorreu na sequência da notícia da coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, sobre gravação, feita pelos irmãos Batista, donos da JBS, que mostraria Temer supostamente dando aval para compra do silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha.
“Nunca vivi um momento como esse; a recomendação é zerar todas as operações”, diz analista
O estrago político abala o mercado financeiro na manhã desta quinta-feira (18): os contratos futuros de Ibovespa, dólar e DIs estão congelados na B3, após atingirem o limite de queda na abertura. No caso do índice, a derrocada foi de 10,02%, a 61.180 pontos. Em programa realizado nesta manhã, o analista técnico André Moraes, da Clear Corretora, recomendou “muito cuidado” aos traders nesta sessão.
“Nunca vivi uma situação como essa. Os outros cinco circuit break que presenciei o mercado estava em tendência de baixa; desta vez, tinha muita gente comprada”, comentou Moraes.
A recomendação dele é que os traders zerem todas as operações já na abertura do pregão. “Muito cuidado com o day trade. Acredito que não vamos recuperar essa queda no curto prazo”, disse.
#2 – TSE Salva Temer por Quatro Votos a Três (09/06/2017)
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encerrou nesta sexta-feira, 9 de junho, o julgamento da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, que venceu as eleições de 2014. O ministro Herman Benjamin, relator do caso, votou pela cassação do mandato do presidente Michel Temer — já, na tarde desta sexta-feira, os outros seis ministros apresentam seus votos sobre o pedido de cassação, protocolado pelo PSDB. O placar final inocentou Temer: 4 votos contra 3. No início da tarde, o vice-procurador-eleitoral Nicolao Dino chegou a pedir que o ministro Admar Gonzaga fosse impedido de votar, por ele ter atuado como advogado da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas a corte eleitoral rejeitou por unanimidade. Nos três primeiros dias de juízo, a maioria dos ministros descartou incluir as provas da Odebrecht no processo.
#2 – Reforma trabalhista é aprovada no Senado (11/07/2017)
Senado aprovou nesta terça-feira (11) o texto da reforma trabalhista. A reforma muda a lei trabalhista brasileira e traz novas definições sobre férias, jornada de trabalho e outras questões. O texto foi sancionado na quinta-feira (13) pelo presidente Michel Temer. As novas regras entram em vigor daqui a quatro meses, conforme previsto na nova legislação. O governo ainda poderá editar uma Medida Provisória com novas alterações na lei trabalhista. A alternativa foi negociada para acelerar a tramitação da proposta no Congresso.
#3 – Lula é condenado por Moro em primeiro processo na Lava Jato (12/07/2017)
O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, condenou, nesta quarta-feira (12), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a nove anos e seis meses de prisão em regime fechado. O processo se refere ao apartamento tríplex no Guarujá (SP). Lula vai recorrer em liberdade.
Lula foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela acusação de ter sido beneficiado com um tríplex em um condomínio em Guarujá (SP). Moro acatou a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) na qual, segundo a acusação, o ex-presidente recebeu propina por conta de três contratos firmados entre a empreiteira OAS e a Petrobras, entre 2006 e 2012.
#5 – Câmara rejeita denúncia e salva mandato de Michel Temer
A Câmara dos Deputados recusou nesta quarta-feira (2) o pedido de autorização para abertura de processo penal contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. A denúncia havia sido feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base na delação premiadas do empresário Joesley Batista, e só poderia seguir no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aprovação de pelo menos 342 deputados federais. Ao final da sessão, 263 votaram a favor de Temer, 227 contra, houve ainda 19 faltas e 2 abstenções.
#6 – Anúncio da privatização da Eletrobras faz ações na bolsa dispararem
O governo anunciou oficialmente nesta terça (22) de manhã, a privatização da Eletrobrás – estatal que é a maior empresa do setor elétrico no Brasil. O Ministério de Minas e Energia ainda não detalhou como será esse modelo de privatização, mas o anúncio já deixou o mercado financeiro agitado. O índice Bovespa, da bolsa de São Paulo, atingiu o maior nível dos últimos seis anos.
Os Preços Descontam Tudo
Sou um entusiasta dos gráficos. Muita gente torce o nariz para a análise técnica dizendo que ela tenta prever o futuro, mas esta é uma visão equivocada. A análise gráfica simplesmente coloca em uma forma visual o sobe e desce do mercado. Não deve ser encarada como uma bala de prata e sim como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão.
Meu gráfico é limpo, você encontrará nele apenas as velas (candlestick) de preços. Nada de médias móveis, estocásticos e fibonaccis. Mas tenho um apreço especial pelos canais. Estes, eu mesmo traço. É tão simples, basta traçar retas ligando topos e fundos. No gráfico apresentado anteriormente você não terá uma visão clara da tendência do mercado, mas se você expandir a visão terá então o seguinte gráfico:
Vejam que coisa linda, notem este belo canal de alta. Vejam como o índice toca milimetricamente nas linhas e reverte os movimentos de curto prazo. Parece que as linhas do canal até atraem os preços. É algo mágico. Mas cuidado, não vamos romantizar as coisas, basta você acreditar em algo para que aquilo deixe de se verdade. Há um ditado que diz: “quando você já tem a resposta, o mercado mudará a pergunta”.
Os conceitos de análise técnica mais utilizados hoje, foram concebidos há mais de 100 anos por um visionário: Charles Dow. Este sujeito foi colunista do Wall Street Journal e criador do índice Dow Jones. Seus manuscritos influenciam até hoje o modo como especuladores e investidores do mundo inteiro vêem o mercado financeiro e o comportamento dos preços.
Os conceitos elaborados por Charles Dow foram reunidos em um documento denominado Teoria de Dow. O primeiro fundamento da teoria diz: “os preços descontam tudo” ou “os índices já descontam tudo“. Para Charles Dow, os índices como o Dow Jones e o Ibovespa, já refletem todo o consenso do mercado sobre o passado, o presente e o futuro. Segundo Dow, os impactos de informações corporativas e econômicas são incorporadas imediatamente pelo preço, conforme a hipótese de eficiência de mercado. Uma vez que o mercado é rápido e eficiente, qualquer notícia já será rapidamente incorporada nos movimentos dos preços, enquanto os índices conseguem agregar todos estes movimentos.
Em outras palavras, os índices e cotações individuais representam a ação conjunta de inúmeros agentes de mercado, desde os mais bem informados (que contam com as melhores informações e previsões) até os menos informados (você e eu). As variações diárias dos preços, portanto, já têm incluídas (descontadas) no seu valor os eventos que irão acontecer e que são desconhecidos pela maioria dos operadors, investidores e especuladores.
Contudo existem os eventos que são imprevisíveis e que os agentes não têm como anteceder, como calamidades naturais, atentados terroristas, etc. Há também os eventos “Cisne Negro” como o caso da delação JBS. Trata-se de um acontecimento inesperado que tem um enorme impacto na vida econômica, política e cultural das pessoas, que não era previsível a partir dos modelos habituais de pensamento, mas que se tenta explicar a posteriori de modo a torná-lo compreensível e previsível. Esses eventos inesperados, quando acontecem, podem gerar fortes oscilações iniciais, mas acabam sendo absorvidos pelo mercado.
Outros pontos da Teoria de Dow:
- Os mercados se movem em tendências: As tendências podem ser de alta ou de baixa. Por sua vez, as tendências podem ser primárias, secundárias e terciárias, segundo sua duração.
- Princípio de confirmação: Para confirmar uma tendência é necessário que os índices coincidam com a tendência.
- Volume convergente: Quando o mercado for mudar a tendência, irá haver um aumento expressivo volume nas negociações. Dow acreditava que volumes menores eram apenas algum vendedor ou comprador agressivo, para mudar uma tendência precisava que um bom volume o confirmasse. Enquanto não houver um volume alto confirmando a mudança de tendência, vale a tendência anterior.
- Utiliza as cotações de fechamento para o cálculo das médias: Não leva em conta os máximos e mínimos para o cálculo de seus índices.
- A tendência é vigente até que seja substituída por outra oposta: Até que os índices se confirmem, considera-se que a tendência antiga segue em vigor, apesar dos sinais aparentes de mudança. Este princípio procura evitar a prematura troca de posição (comprada ou vendida).
Olá Uó,
Realmente, os mercados se movem junto com a política e quanto mais o estado é interventor, maior essa correlação.
Daí ter ativos que seguem o inverso, ou quer reajam positivamente às más notícias, como o caso do dólar e do ouro no Brasil.
Abçs!
Olá I.I.
Com certeza é interessante ter em carteira estes ativos de proteção, mas isto exige um timing muito bom, imagina quem compro dólar acima de 4 reais para se proteger, rs.
Abraço!
Não gosto muito de análise técnica, mas gosto da maneira que você expõe as coisas. Parabéns pelo blog. Continuarei seguindo.
Fala Sr. Bufunfa!
Obrigado por acompanhar.
Abraço!
Uó, em seus DT é claro que vc usa a AT.
Mas nas ações que possui, vc usa para sair quando bate e volta nos canais? Ou as ações vc analisa mais os fundamentos?
Abraço!
Opa André!
Nas ações para B&H, costumo usar também a análise gráfica para fazer entradas e saídas. Um exemplo recente foi a Natura, mas tem algumas ações que não respeitam muito esta técnica tipo a MGLU3, rs
Abraço!