Uma lição financeira que deveriam ensinar na escola é que a maioria das coisas que compramos pagamos duas vezes. Há o primeiro preço, geralmente pago em dinheiro, apenas para obter a posse da coisa desejada, e há o segundo preço: seu tempo. Confira agora nesse artigo chamado o preço das coisas essa lição de educação financeira.
Para fazer uso da coisa comprada, você também deve pagar um segundo preço. Esse é o esforço necessário para obter os benefícios, e pode ser muito maior do que o primeiro preço. Pior ainda se o esforço não trouxer benefício algum, assim você terá apenas a posse, que por si só significa pouca coisa.
Um novo livro, por exemplo, pode exigir 50 reais pelo primeiro preço — e dez horas de tempo dedicado à leitura pelo segundo. Somente quando o segundo preço estiver sendo pago, você verá algum retorno sobre o primeiro. Pagar apenas o primeiro preço é quase o mesmo que jogar dinheiro no lixo.
Da mesma forma, depois de comprar um aplicativo de orçamento, você deve configurá-lo e aprender a usá-lo habitualmente antes que ele realmente melhore sua vida financeira.
Se você olhar ao redor, poderá notar muitos bens pelos quais pagou o primeiro preço, mas não o segundo. Livros não lidos, jogos não jogados, discos não ouvidos.
A industrialização reduziu tremendamente os primeiros preços, mas também nos deu muitos outros para considerarmos pagar. Com todas as coisas abundantemente oferecidas, quase ninguém sente que tem dinheiro suficiente, tempo então nem se fala.
E não importa quantas coisas legais você adquira, você não ganha mais tempo ou energia para pagar o segundo preço – e assim recompensas permanecem não resgatadas.
Acredito que essa seja uma das razões pelas quais nossos estilos de vida modernos podem parecer um pouco autodestrutivos às vezes. Em nossa busca por satisfação, continuamos pagando os primeiros preços, criando uma dívida correspondentemente enorme de segundos preços não pagos.
Reflita: as recompensas de qualquer compra – a razão pela qual a compramos – permanecem bloqueadas até que ambos os preços sejam pagos.
Esse sentimento de escassez cria um dos principais efeitos colaterais de nossa intransponível dívida de segundo preço: nós reflexivamente exageramos no entretenimento e outros prazeres de baixo preço como serviços de streaming e comida processada – mesmo que suas recompensas sejam muitas vezes apenas marginalmente melhor do que não fazer nada.
Essas coisas são atraentes porque exige pouco esforço (e estamos cansados de trabalhar para pagar os primeiros preços), mas pode consumir muito tempo, esgotando ainda mais o orçamento do segundo preço.
A conclusão final é que o primeiro preço – o preço da posse – torna-se dispendioso se você não tiver orçamento (tempo) suficiente para o segundo preço. Uma forma de minimizar isso é usar o consumo consciente, livre de impulsos. Ou melhor ainda, substituir o desejo de posse e usufruir da economia do compartilhamento, mais conhecida como “uberização”. Afinal, se você usa sua furadeira apenas uma vez por ano, por que então você precisa ter a posse da ferramenta nos outros 364 dias?
Baseado no artigo Everything Must Be Paid for Twice.