Bolha Americana: O Equívoco Sobre o FAANG e as Previsões de Hugo O’Neill

Fico navegando pelos sites de economia e finanças do exterior e ultimamente tenho encontrado muitos artigos curiosos sobre bolha de mercado, alta exagerada de ações, colapsos, etc. Há também a discussão em torno das empresas do grupo FAANG: até que ponto este crescimento é sustentável e não está se formando a nova “Bolha Dot Com”? Howard Gold diz que existe um equívoco conceitual no argumento daqueles que defendem que as empresas do FAANG são muito diferentes das empresas da era “Dot Com”. Já Hugo O’Neill, famoso trader português (isto não é uma piada), afirma que o colapso dos mercados irá ocorrer em breve (mas não sabe quando, rs).

Se existe uma bolha no mercado americano então o mercado indiano está ainda mais inflado. No gráfico abaixo você poderá comprar o desempenho destas duas bolsas bem como as bolsas da China e do Brasil. A bolsa da China chegou a subir incríveis 120% em poucos meses entre 2015 e 2015, isto sim pode ser considerado uma bolha. Tanto que a correção não tardou. Já a bolsa americana faz uma subida ingrime mas suave, um pouco diferente dos sobressaltos verificados na bolsa da Índia.

bolsas de valores que mais subiram

This is the biggest misconception about the FAANG stocks…

Em artigo publicado hoje no site americano MarketWatch, Howard Gold tenta desconstruir a tese de que “agora é diferente” – sendo este o principal argumento dos defensores da alta sustentável das empresas do grupo FAANG em detrimento da alta insustentável das empresas da “Bolha Dot Com”.

Ao contrário do que diz os investidores pro-FAANG, Gold mostra que os as grandes vedetes da era dot-com eram empresas de tecnologia que geravam dinheiro e tinham lucros consistentes:

Desenterrei antigos relatórios anuais de alguns das melhores empresas tecnológicas daquele período e descobri que, embora algumas estrelas como a Micron Technology estivessem no vermelho em 1999, a maioria esmagadora das empresas dot-com era muito lucrativa com um poderoso crescimento dos lucros.

Ainda assim, isso não as salvou da terrível derrocada que se seguiu. Alguns dos maiores nomes perderam ainda mais do que o Nasdaq, cujo colapso rivalizou com o Dow Jones Industrial Average na década de 1930 ou o índice Nikkei do Japão na década de 1990. Desde então, muitas dessas supernovas já foram compradas, e muito, muito poucos têm preços mais elevados agora do que em março de 2000, há 17 anos.

A tabela abaixo mostra a escalada e o declínio de algumas das mais proeminentes empresas de tecnologia do período. Todas as cinco empresas estavam entre as 10 maiores empresas em valor de mercado na Nasdaq.

Empresa % de ganho de 1997-98 a 1999-2000 % de queda entre 2000 e 2003 Crescimento de lucro
Qualcomm 2,820.5% -86.7% 73%
Cisco Systems 1,342.5% -89.3% 48%
Microsoft 478.1% -63.7% 67%
Oracle 1,438.5% -83.5% 62%
Applied Materials 1,187.9% -82.0% 180%

Olhando para a coluna “Crescimento de lucro” no período, os investidores poderiam concluir que estas empresas tinham números condizentes com o bom desempenho no mercado acionário. Não eram simples startups com uma ideia promissora a ser explorada. Tratava-se se empresas detentoras de tecnologias inovadoras para a época e que estavam fazendo dinheiro com seus produtos, assim como as empresas atuais do grupo FAANG. A tabela abaixo apresenta outras empresas que se destacaram na era dot-com.

Empresa Alta nos anos 90 Declínio nos anos 2000 Crescimento de lucro na era dot-com
Dell 89,374% -73% 61%
EMC 80,238% -69% 53%
Tellabs 16,317% -91% 29%
Sun Microsystems 7,070% -94% 23%
Novellus Systems 3,451% -40% 28%
BMC Software 3,072% -52% 89%

Onde estão estas empresas hoje?

  • A Oracle comprou a Sun Microsystems em 2010.
  • A Novellus Systems foi adquirida pela Lam Research em 2011.
  • A Tellabs concordou com uma compra privada em 2013.
  • A BMC Software foi comprada por empresas de private equity em 2013 por US $ 6,9 bilhões.
  • Em 2015, a Dell e seus parceiros de capital privado concordaram em comprar a EMC por US $ 67 bilhões, ou US $ 33 por ação, na época a maior aquisição na história da tecnologia.

Aliás, quase todas essas empresas acabaram com seus valores de ações muito mais baixos do que o pico em 1999-2000.

Mas as lições da era ponto-com são claras: mesmo o grande crescimento dos lucros não elimina os riscos de um grande colapso. Na verdade, as melhores empresas, aquelas que mais subiram, podem ser as que mais cairão quando o urso começa a rosnar.

Hugo O’Neill: O Colapso Está Próximo

Li ontem uma entrevista de Hugo O’Neill no site português Negócios que “transcreverei” algumas partes logo abaixo. Confesso que nunca tinha ouvido falar de tal figura, mas pelo que pesquisei é bem famoso na terrinha além mar. O’Neill é a pessoa que há mais tempo exerce a profissão de consultor de investimento em Portugal. A experiência de O’Neill leva-o a afirmar com certeza que o colapso dos mercados está para breve.

Estes 15 anos foram de mudanças disruptivas, essencialmente do ponto de vista tecnológico. Quais as grandes diferenças?

As principais mudanças sob o ponto de vista técnico consistiram no surgimento e desenvolvimento do mercado de derivativos e a globalização dos mercados financeiros, dando origem primeiro nos EUA e depois no resto do mundo a uma “economia financeira”, aplicando no mercado de capitais o produto de dívida emitida pelo sector financeiro. Este movimento foi criando bolhas especulativas, tendo em 2000 rebentado a mais especulativa de todas a chamada bolha dos dot.com, cujo efeito devastador foi atenuado pelo surgimento da bolha do sector imobiliário cujo rebentamento deu finalmente origem à crise de 2008, resultante do endividamento excessivo do sector financeiro.

As consequências desta crise global foram parcialmente sustidas por medidas de injecção de liquidez no sistema numa acção convergente dos principais governos e bancos centrais e deveria ter sido seguida – mas não foi – por um plano a longo prazo com o objectivo de eliminar o excesso de endividamento. Os excessos da dívida pública e privada são hoje bem mais críticos que os de 2008 e os instrumentos para controlar a situação bem mais escassos. Em consequência, aumenta o desvio entre o crescimento do mercado financeiro e o da economia real, devido ao excesso de investimento no primeiro e ao deficit no segundo.

hugo oneill

Está a dizer que estamos pior que em 2008?

Sim. Se analisarmos um gráfico de crescimento da dívida americana a partir dos anos 80 parece os Alpes!
Tudo começou efectivamente nos anos 70. Na altura havia um tipo de bancos, os “saving and loans”, cuja actividade consistia em captar poupanças pagando um juro ligeiramente superior ao dos bancos comerciais e aplicava esses valores em empréstimos para compra de habitação, carros, e outros bens de uso corrente, cobrando una taxa de juro também ligeiramente superior ao mercado.

Mas esse juro tornou-se baixo quando a Reserva Federal resolveu primeiro em 1975 e depois em 1980 aumentar drasticamente as taxas de juro para combater a inflação galopante. Tal subida das taxas de juro tornou inviável o negócio tradicional destas instituições, levando-as a procurar um tipo mais sofisticado de operações que suportasse o acréscimo de taxas. Mal preparados tecnicamente e financeiramente para esse novo tipo de operações, começaram a entrar em quebra de tal modo que, em 1989, 1500 dos 4000 bancos tinham falido, levando o governo e a Reserva Federal a intervir de modo a garantir a solvência dos restantes bancos que mais tarde acabaram por ser absorvidos pelos grandes bancos comerciais.

Tratou-se da maior crise do sector bancário desde 1929 e a atitude do governo e Reserva Federal levou os gestores e investidores do sector financeiro a acreditar que os decisores políticos e os reguladores da actividade bancária adoptariam idêntica orientação em futuras situações, levando-os a reforçar a componente de risco, emitindo dívida cujo produto aplicavam em investimentos especulativos nos mercados de capitais. Esta orientação não mais parou, levando a um aumento exponencial do endividamento do sector financeiro, às sucessivas bolhas especulativas com as consequências que agora se conhecem.

Acresce que o peso dos depósitos nos balanços dos bancos dos EUA decresceu muito, o que aumenta consideravelmente o risco.

Está a falar de uma bolha gigantesca?

Sim! Não foram tomadas medidas estruturais visando a redução global do endividamento. Houve sempre uma visão de curto prazo, inerente da democracia que encurta o espaço de acção a quatro anos, os ciclos eleitorais. Basta pensar que a dívida total dos EUA – incluindo a dívida não titulada envolvendo compromissos do governo à segurança social – ascende a 120 a 130 triliões de dólares. É impossível de resolver! O PIB anual, mesmo sendo optimista, é de 16 a 17 triliões.

bolha americana

A bolha vai rebentar? Quando?

Não se sabe. Tanto pode ser amanhã ou em breve, há mil razões para isto estoirar, a crise no Qatar com o Médio Oriente, a volatilidade das relações externas de Trump, o descrédito em relação à política económica de Trump, por exemplo. É uma bolha gigante que envolve uma sobrevalorização do mercado de acções americano. O índice S&P500 apresenta neste momento um P/E (CAPE) de 30 vezes, ou seja, o valor do índice é cerca de 30 vezes o resultado médio por acção ajustado pela inflação, o que corresponde a um desvio de cerca de 80% acima da média. Quando rebentar, tanto para as empresas boas como para as más, só se safa quem esteja em activos que possa mobilizar de forma independente.

Tais como?

As moedas virtuais que fogem de tal maneira aos governos e podem servir de refúgio, é arriscado, mas é um caminho. Mais seguro é fazer aplicações em ouro, em economia real: imobiliária, agricultura. África é uma oportunidade fantástica. Vai haver um ‘back to basics’.

Como aprender operar opções de uma vez por todas!!!

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8 comentários em “Bolha Americana: O Equívoco Sobre o FAANG e as Previsões de Hugo O’Neill

  1. thiago Responder

    Em momentos pré-bolha, vale reforçar a posição com ativos de renda fixa (CDBs robustos, IPCA e pré-fixados)?

    • Ábaco Líquido Autor do postResponder

      Boa tarde Ricardo!

      Sempre bom ter renda fixa em carteira. Mas nunca saberemos se tem uma bolha até ela estourar, rs

  2. Eduardo Moreno Responder

    Acompanho sua página há um ano e geralmente nunca comento,mas a qualidade do texto fez com que eu lhe escrevesse hoje. Publicação muito boa. Parabéns pelo trabalho.

    • Ábaco Líquido Autor do postResponder

      Olá Eduardo!

      Muitíssimo obrigado pelo feed-back e por acompanhar este humilde blog.

      Grande abraço!

    • Ábaco Líquido Autor do postResponder

      André, além de compra do mini dolar, o que tem feito como seguro? Opções? pode fazer um post a respeito das suas estratégias? Valeu.

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